terça-feira, 19 de janeiro de 2016

EUA : As dúvidas em torno da expressão “natural born citizen”, condição de elegibilidade imposta à candidatura à presidência

No livro Direito Eleitoral Comparado – Brasil, Estados Unidos, França,   apresentei os termos do debate desde há muito travado nos Estados Unidos em torno da exigência imposta pela Constituição norte-americana de que para ser candidato à presidência é preciso ser natural born citizen (págs. 181-184).
A discussão está agora na ordem do dia. Isso em razão dos questionamentos suscitados pela pré-candidatura à presidência do senador pelo partido Republicano Ted Cruz, do Texas. Ted Cruz nasceu no Canadá, filho de mãe americana e pai cubano. Sua elegibilidade à presidência tem sido questionada pelo opositor Donald Trump e agora também por meio de uma ação judicial proposta perante uma corte federal no Texas, ação essa que muitos esperam será a primeira de muitas.
A grande dificuldade é que até hoje a Suprema Corte norte-americana não foi instada a esclarecer o exato sentido da exigência constitucional. Isso tem levado a interpretações díspares, que vão desde os que entendem que o debate sequer faz sentido num país de imigração, até os que consideram que só podem se candidatar a presidência os filhos de pais americanos nascidos em solo americano.
Há renomados constitucionalistas que sustentam que a exigência perdeu a razão de ser na época atual, em que os soldados britânicos (redcoats) não estão mais desembarcando nos EUA para combater na guerra de independência.
Só que para suprimir essa exigência seria preciso emendar a Constituição, o que não é tarefa nada fácil nos EUA. Além disso, há o receio de que uma vez aberta a questão, surjam propostas as mais variadas, até mesmo absurdas, para qualificar os candidatos a presidente.
Por essa razão, há quem sustente que o melhor caminho seria um candidato cuja cidadania nata estivesse em dúvida vencer as primárias e depois ver negada por algum Estado a inclusão do seu nome na cédula. Nesse caso, esse candidato teria legitimidade para requerer em juízo uma solução, e o Poder Judiciário buscaria uma resposta rápida, a fim de evitar a instalação de uma crise de maiores proporções.
          Seja como for, para o observador externo chega a ser inacreditável que uma questão jurídica tão básica e essencial quanto o sentido de uma das condições de elegibilidade para a presidência da República nos EUA seja ainda tão duvidosa e incerta.