quarta-feira, 22 de julho de 2015

EUA : Super PACs e o problema da boneca russa

            No post anterior, dissemos que nos EUA há brechas na lei que permitem adiar a divulgação dos nomes dos financiadores dos Super PACs. É o que veremos hoje.
            A lei norte-americana prevê que os Super PACs devem apresentar à FEC (Federal Election Commission) relatórios contábeis completos de sua atividade, contendo inclusive os nomes dos doadores. Esses relatórios  devem ser apresentados com periodicidade mensal ou trimestral, a escolher.
            Sendo assim, Super PACs criados poucos dias antes da eleição e que optam pelo relatório trimestral só vão prestar contas, e portanto divulgar os nomes dos doadores, três meses depois da sua criação, portanto em data posterior ao dia da eleição.
            Mas não é só. Quando os Super PACs recebem doações de entidades filatrópicas, pessoas jurídicas que são isentas de impostos, os Super PACs informam à FEC apenas o nome da entidade filantrópica que efetuou a doação. Como essas entidades também recebem doações, e como o Código Tributário permite que elas não informem os nomes dos seus doadores, a real origem dos recursos permanece oculta. Essas entidades são conhecidas pelo número do artigo do Código Tributário que se refere a elas: 501(c)(4). O fenômeno é conhecido entre os especialistas como “o problema da boneca russa”.
            Além de se esconder por trás de entidades filantrópicas, os doadores que querem manter o anonimato têm recorrido também à prática de criar empresas de fachada (shell companies), cujos sócios declarados nada têm a ver com a verdadeira origem do dinheiro, para fazer grandes doações a Super PACs.
             Essas práticas são comuns aos dois lados do espectro político, sendo adotadas por simpatizantes tanto dos candidatos Republicanos quanto dos Democratas.
As brechas na lei que permitem essas práticas expõem sérias deficiências da disciplina jurídica do financiamento das eleições federais nos EUA. Elas permitem que indivíduos abastados e grandes empresas tenham meios de exercer significativa influência sobre as eleições, sem que os eleitores possam saber ao certo que interesses estão sendo realmente representados.
De fato, eleitores norte-americanos são literalmente bombardeados por propaganda política na TV, em grandes campanhas de marketing político, sem que possam conhecer plenamente a origem do financiamento dessas campanhas.
Essas brechas põem em risco o direito à plena e total transparência do financiamento eleitoral, essencial em toda democracia digna desse nome.