domingo, 28 de junho de 2015

EUA : A exigência de transparência nos gastos feitos por contratantes do governo federal com campanhas políticas

Na terça-feira da semana passada, dia 23/6, 130 parlamentares federais norte-americanos enviaram cartas ao presidente Obama requerendo que ele edite uma Ordem Executiva (Executive Order) pela qual empresas que têm contratos com o governo federal prestem informações sobre seus gastos com campanhas políticas.
Ordem Executiva é uma espécie de decreto do presidente da República pelo qual ele implementa ou interpreta uma lei federal, a Constituição ou um tratado. Em regra refere-se a questões relativas à rotina administrativa e a operações internas das agências federais.
            A lei eleitoral nos Estados Unidos veda as doações empresariais diretas a candidatos, mas desde 2010, por força da polêmica decisão da Suprema Corte no célebre caso Citizens United, ficou assentado que empresas também são titulares do direito à liberdade de expressão e por essa razão podem fazer gastos independentes (independent expenditures) para manifestar apoio ou rejeição a algum candidato, contanto que essas despesas sejam de fato independentes, isto é, não sejam feitas de modo coordenado com a campanha do candidato. São consideradas despesas coordenadas – do tipo vedado às pessoas jurídicas, além das doações diretas – aquelas que são feitas em cooperação, com o consentimento ou com consulta à campanha do candidato.
            As enfáticas cartas dos congressistas ao presidente Obama  reforçaram a campanha pela Executive Order que vem sendo empreendida por setores organizados da sociedade civil. Em abril, grupos de pressão se manifestaram em frente à Casa Branca e entregaram um abaixo-assinado contendo mais de meio milhão de assinaturas. No mesmo dia, ativistas em 30 Estados norte-americanos organizaram eventos pela edição da Executive Order . Além disso, mais de seis mil telefonemas foram dados à Casa Branca em um único dia no mesmo sentido.
Essa mobilização popular de fato é necessária. Desde a decisão Citizens United, de 2010, o volume do chamado dinheiro escuro (dark money) na política americana – gastos com política escondidos do público – cresceu dramaticamente. Com isso, perde clareza a real influência dos grandes doadores nas decisões de candidatos tornados titulares de mandato eletivo. Quando se trata de contratos com o governo federal, a oportunidade para corrupção é ainda maior e pode custar milhões aos contribuintes.
            No ano de 2014, o governo federal gastou cerca de US$ 460 bilhões com contratos com empresas privadas. 40% desse valor foi destinado a apenas 25 empresas. Com tanto dinheiro em jogo, o ímpeto de comprar influência sobre políticos com poder sobre esses contratos é obvio, porque, como relatam os grupos de pressão, o chamado pay-to-play funciona.
Os deputados federais afirmaram em sua carta que toda empresa que receba recursos oriundos dos impostos deveria ser obrigada a dar total publicidade aos seus gastos com política de maneira célere e acessível.

            Já os senadores abordaram o aspecto jurídico, sustentando que o problema das despesas feitas por contratantes do governo federal com campanhas políticas pode ser resolvido pelo próprio presidente sem necessidade de autorização do Congresso. Para eles, o presidente pode valer-se de sólida base jurídica para baixar uma Executive Order exigindo publicidade dos gastos com política por entidades que obtiveram contratos com o governo federal.