quarta-feira, 24 de setembro de 2014

França : Eleições indiretas para o Senado no próximo dia 28

          Um colégio eleitoral composto por cerca de 145.000 grandes eleitores irá eleger no próximo domingo (28) 178 dos 348 senadores na França. A eleição para o Senado é indireta.
            O mandato para o Senado na França é de seis anos. A cada três anos metade do Senado é renovada. A idade mínima para ser candidato ao Senado na França é 24 anos.
Forma de votação
            O Estado francês é um Estado unitário (e não federal), mas a administração é descentralizada. As “coletividades territoriais” são organizadas em três níveis: as regiões, os departamentos e as comunas[1].
     A circunscrição eleitoral para eleição dos senadores corresponde ao departamento. Assim, cada departamento elege um número de senadores proporcional a sua população. Em cada departamento se forma um colégio eleitoral.
Composição do colégio eleitoral
            O colégio eleitoral que vota para eleger os senadores é composto por quase todos os titulares de mandato eletivo.
            A composição do colégio eleitoral, nas palavras do Código Eleitoral, assegura, em cada departamento, a representação das diferentes categorias de coletividades territoriais e da diversidade das comunas, levando em consideração a população que ali reside.
            Esse colégio eleitoral é composto : dos deputados e dos senadores ; dos conselheiros regionais da seção departamental correspondente ao departamento em questão ; dos conselheiros gerais ; dos delegados dos conselhos municipais.
          95% dos membros do colégio eleitoral são delegados dos conselhos municipais. Isso porque, na França, país com cerca de 66 milhões de habitantes, há um grande número de municípios (comunas), cerca de 36.681. Desses, mais de 31.500 são comunas rurais, com menos de 2.000 habitantes.
O número de delegados dos conselhos municipais no colégio eleitoral é proporcional ao número de conselheiros, que por sua vez é proporcional à população de acordo com faixas estabelecidas pelo Código Eleitoral (um a quinze delegados nas comunas de menos de 9.000 habitantes ; de 29 a 69 delegados nas comunas de 9.000 a 30.000 habitantes ; acima de 30.000 habitantes, um delegado por faixa de 800 habitantes).
Razões para a eleição indireta
A sobrerrepresentação das pequenas comunas rurais no colégio eleitoral repercute na composição do Senado, que tende a ter perfil mais conservador. 
            Nas palavras de Francis Hamon e Michel Troper[2], “os membros da câmara alta são por vezes apresentados como ‘os eleitos do centeio e da castanha’, segundo a expressão do politicólogo Maurice Duverger. Os defensores do Senado em sua forma atual (...) [consideram que] o bicameralismo perderia uma parte de seu sentido se (...) o modo de composição da segunda câmara fosse quase idêntico ao da primeira. Segundo eles, a especificidade do recrutamento senatorial cumpre uma função estabilizadora e o bicameralismo perderia sua justificação se o Senado fosse um ‘clone’ da Câmara dos Deputados”.  



[1] Para explicações mais detalhadas, ver meu Direito eleitoral comparado – Brasil, Estados Unidos, França, Saraiva, São Paulo, 2009, p. 346 e s.
[2] Droit constitutionnel, 28ª ed., L.G.D.J., Paris, 2003, p. 627.